segunda-feira, novembro 28, 2005

Julgamento do caso de Entre-os-Rios

O Tribunal da Relação do Porto pronunciou quatro técnicos da extinta Junta Autónoma de Estradas e dois funcionários da empresa responsável pela vistoria subaquática da ponte de Entre-os-Rios. Hoje, o Tribunal de Castelo de Paiva confirmou o julgamento dos seis arguidos que surge na sequência de um recurso do Ministério Público sobre o despacho que concluiu que o acidente ocorreu devido a causas naturais.

Em Fevereiro de 2002, os arguidos já pronunciados interpuseram recurso para o Tribunal Constitucional. O processo arrastou-se no Tribunal da Relação, mas o recurso acabou por ser negado. Mesmo assim, os advogados voltaram a recorrer e a entregar processos de aclaração, fazendo com que o despacho do juiz só tenha sido proferido no final de Setembro.

Em fase de inquérito, o procurador Pinho Hespanhol acusou as pessoas a responsabilizar criminalmente por violação das regras técnicas, agravada pela morte de 59 pessoas. Em causa ficou a decisão do juiz de instrução Nuno Melo que, na comarca de Castelo de Paiva, optou por arquivar o processo.

Só em Março de 2004 foi iniciado o debate instrutório para definir quem iria a julgamento por alegadas responsabilidades na queda da ponte de Entre-os-Rios. Mas apenas na passada 5ª feira foi decidido que os 6 arguidos seriam julgados.

Horácio Ribeiro, da Associação das Famílias das Vítimas da tragédia de Entre-os-Rios, e Sónia Carneiro, representante do advogado das vítimas, mostram-se satisfeitos com a confirmação da realização do julgamento. No entanto, os advogados dos arguidos não excluem a possibilidade de voltar a recorrer da decisão.

A queda da Ponte de Entre-os-Rios deu-se a 4 de Março de 2001 e fez 59 vítimas, que viajavam num autocarro e três automóveis.


sexta-feira, novembro 11, 2005

A questão do cidadão-jornalista

A expressão cidadão-jornalista surge quando um cidadão comum está onde um jornalista quereria estar, no tempo em que o jornalista deveria estar e perante um facto de irrefutável interesse jornalistico toma a iniciativa de o registar em memória digital ou humana, o que um jornalista gostaria de ter registado. Simplificando, generalizou-se a ideia de que quem regista um acontecimento imprevisto com o telemóvel ou qualquer dispositivo de que se faça acompanhar ascende automaticamente ao estatuto de cidadão-jornalista.

Todavia, quando se considera válido o termo cidadão-jornalista carimba-se entrada num universo muito escorregadio. Se uma pessoa que regista um acontecimento de valor jornalístico se torna um "cidadão-jornalista", então qualquer fonte de informação pode ser também considerada "jornalista". Assim, e sem pecar pelo exagero da generalização, qualquer pessoa é potencialmente um jornalista.

Não entrando pelo lado insultuoso da questão que essa premissa pode representar para a verdadeira comunidade jornalística, começa a perceber-se que uma testemunha circunstancial de uma qualquer ocorrência pode ser tida como jornalista tanto como um indivíduo que faz um curativo ser considerado médico. Ou seja, os dados recolhidos pelo "cidadão-jornalista" auxiliam clara e inequivocamente o trabalho jornalístico, no entanto, nunca podem substituí-lo ( por exemplo, as imagens amadoras recolhidas do maremoto no Índico em 2004, tiveram obviamente de ser enquadradas contextualmente e acompanhadas de informação tratada para terem o significado devido, não retirando obviamente o poder das imagens em si).

Neste ponto, já se percebe que o neologismo, mesmo antes de existir não faz sentido. Então se entrarmos no plano da responsabilidade que um jornalista tem perante a sociedade, mais ainda. Sendo o responsável pela transmissão de informação através dos meios de comunicação de massas, o jornalista deve estar preparado para receber, escolher (função de gatekeeper) e tratar a informação do modo mais isento e profissional possível. Estes requisitos não são, obviamente, procurados numa testemunha ocasional, mesmo que a iniciativa de registar determinados momentos seja útil e por vezes louvável. Logo, não é possível que um cidadão comum possa ser equiparado a um jornalista profissional.

Daqui pode partir-se para os estatutos e obrigações do jornalista. Tendo a carteira profissional, o jornalista compromete-se a respeitar os códigos ético e deontológico, o que também nunca se poderia exigir a uma pessoa comum. Mas a questão da carteira profissional revela-se bastante controversa no caso português, já que qualquer pessoa pode adquirí-la, sem ter completado um curso de jornalismo. Aliás, uma das ideias menos coerentes é a de que para se ser jornalista até é mais conveniente ter-se um canudo de direito. A partir daqui, em Portugal, o jornalismo é uma actividade profissional cujos limites não estão bem delineados. Logo, num contexto em que a profissão de jornalista não se pode considerar nem profissional (pelo facto do curso de jornalismo poder ser contornado), nem amadora (porque existem jornalista formados em jornalismo), talvez se pudesse por a hipótese da existência do tal cidadão-jornalista mas apenas e só neste panorama português.

Resumindo e concluindo, o conceito cidadão-jornalista, por melhor sonoridade que tenha é deveras descabido. Também o sendo a situação dos jornalistas em Portugal, que em grande parte se pode dever à ineficiência do Sindicato dos Jornalistas e à sentida falta de uma Ordem.

terça-feira, novembro 01, 2005

JN online - o 1º jornal digital em Portugal...

O JN abriu o seu sítio na web em 27 de Julho de 1995, muito pelo entusiasmo do director de então, Frederico Martins Mendes, e da direcção técnica da empresa. Deste modo, tornou-se o primeiro jornal online em Portugal. A sua procura não se fez esperar e os dados fornecidos pela empresa apontam para as 180 mil visitas semanais ao site logo no ano seguinte. Esse acesso foi feito, evidentemente, a partir de Portugal, mas mais ainda a partir de outros 70 países, especialmente naqueles em que existem comunidades emigrantes (num volume que rondou 54% do total de visitas em 1996).
O jnoticias.pt foi registado oficialmente como domínio no dia 5 de Março de 1996 e, a 12 de Outubro de 1998 o registo oficial passa para jn.pt.
Desde os primeiros passos até hoje, a maior alteração do JN online foi a última remodelação, realizada em 2003. Além da mudança de visual e da estrutura da página, foi feito um investimento na informação local e na actualização noticiosa ao longo do dia. Também a passagem da página para os servidores do SAPO veio alterar alguns mecanismos internos.

A informação de última hora, a consulta de informação local pelo nome da terra, a disponibilização das edições dos dias anteriores, o arquivo e a valorização do espaço dedicado a dossiers e portfólios são os aspectos do JN online que destacaram uma maior evolução.
O JN tem procurado também realçar a interactividade com os leitores através dos fóruns “Desabafe connosco” e “A sua notícia”. Entre mensagens e respostas, as participações no JN digital representam mais do dobro das cartas de leitores publicadas na edição impressa.

Sendo um jornal em suporte digital, o JN online difere, em alguns aspectos, do jornal diário impresso. Essas diferenças residem na informação online de “última hora” – como é natural, esta informação é basicamente rápida, ritmada e com uma linguagem mais próxima da rádio e das agências noticiosas (isto é, não tão elaborada como no papel). Na versão digital há também alguma preocupação com os dossiers, onde é dada a informação mais vasta possível sobre determinada matéria. Alguns dossiers podem mesmo ser autónomos da edição impressa, estando disponíveis exclusivamente no JN online.

A informação do JN online engloba toda a edição em suporte de papel, incluindo mesmo as suas quatro versões (Nacional, Minho, Centro e Sul). Todavia, apesar do meio digital ser claramente diferente do impresso, não há qualquer tratamento diferenciado para a informação disponibilizada na web. A única diferença neste domínio é a homepage, que é totalmente editada e náo segue as mesmas linhas da versão de papel.

No JN não existem jornalistas exclusivos para a versão online, sendo que os três jornalistas (Carlos Lobo Ferreira e Manuel Molinos no Porto e Sandra Alves em Lisboa) que nela trabalham, fazem também trabalhos para a edição impressa. As funções do jornalistas no JN online cifram-se pelo fecho e lançamento de edição (noite) e actualização de última hora (no turno da noite). Também editam dossiers e portfólios, tal como são responsáveis pela edição de última hora e a gestão de fóruns (no turno de dia).

Sendo um jornal digital um meio muito específico, existem alguns constrangimentos. No que concerne às questões técnicas, os jornalistas online do JN referem que o desenvolvimento e alojamento do servidor e dos gestores de conteúdos do JN online nos servidores do SAPO tem levantado alguns problemas. Alegam que o automatismo criado pelo SAPO nem sempre se adequa ao sistema informático usado para a edição impressa, resultando numa série de erros visíveis na edição online.
Contudo, a maior dificuldade foi, e continua a ser, tentar tornar a edição online um suporte de características diferentes da edição em papel, onde predomine a interactividade. Sendo o jornal impresso e o online veiculados por diferentes canais, o produto de ambos deve ser distinto.

Segundo as estatísticas da Marktest (publicadas a 5 de Agosto de 2005) , no último mês de Junho o JN online foi a publicação digital que registou o maior crescimento de visitantes únicos, subindo 31,8% para os 116 mil. "O Jornal de Notícias foi a publicação digital que mais visitantes únicos ganhou de Maio para Junho, de acordo com os dados do estudo Netpanel da Marktest". Contudo, o "Público"online continuou na liderança, seguido da "Bola" e do "Record", estando o JN , nesse ranking, apenas na 9ª posição.
Segundo dados fornecidos pelo JN, no mês passado a edição online teve cerca de 2,3 milhões de visitas, predominantemente centradas entre as 8 e as 10 horas e direccionadas sobretudo para o Desporto, o Grande Porto, a Sociedade e a Economia.
Apesar da crescente afluência à página do JN, este media online não escapa às críticas feitas pelos jornalistas portugueses e especialistas. Pode mesmo generalizar-se o facto destes jornais online, ao fim de 10 anos continuarem a ser rudimentares, não optimizando os recursos permitidos pela web, como "a multimedialidade, a hipertextualidade e a interactividade". "As qualidades distintas desta nova forma de jornalismo incluem actualização noticiosa contínua, acesso global à informação, reportagem instantânea e personalização de conteúdos. Mas será porventura a vertente da narrativa hipermédia a representar uma das rupturas mais significativas, aos níveis conceptual e prático, entre velhos e novos modelos". O JN padece do subaproveitamento desta potencialidades.
O primeiro jornal online português, tal como grande parte dos restantes, tem revelado dar pouca resposta às solicitações que lhe são feitas por meio digital, o que não parece muito positivo para aquele que devia ser um exemplo online.